[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

[1356.] SEGUNDO CONGRESSO FEMINISTA E DE EDUCAÇÃO [I] || 1928

* II CONGRESSO FEMINISTA E DE EDUCAÇÃO || 1928 *

O jornal O Rebate, de 24 de Junho de 1928, dá grande destaque à inauguração do Segundo Congresso Feminista e de Educação, publicando na 1.ª página as fotografias de Maria O’Neill, Adelaide Cabete, Aurora Teixeira de Castro, Beatriz Magalhães, Elina Guimarães, Angélica Porto, Sara Beirão e Manuela Palma Carlos.
[O Rebate || 24/06/1928 || Imagem restaurada pelo mestre José Ruy]

«O Segundo Congresso Nacional Feminista e de Educação – Inaugura hoje, solenemente, as suas sessões na Associação dos Lojistas de Lisboa. O ‘Rebate’ saúda o congresso
Hoje, pelas 15 horas, na Associação dos Lojistas de Lisboa, Avenida da Liberdade 21, realiza-se a abertura  solene dos trabalhos do segundo congresso feminista e de educação, da iniciativa do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, prestimosa colectividade feminina que entre nós vem chamando as atenções dos poderes públicos para graves e importantes problemas de interesse para a mulher e para a criança.

A acção valiosa, verdadeiramente benemérita que esta associação de senhoras vem desenvolvendo há uns anos a esta parte, tem jus a que os partidos políticos da República e, muito principalmente, o Partido Republicano Português, atendam nela. O Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas é uma força feminina, devidamente organizada e disciplinada e superiormente dirigida pela médica dr.ª Adelaide Cabete, nossa colaboradora, que no estrangeiro, em vários congressos internacionais, tem sabido erguer brilhantemente o nome de Portugal e é hoje já uma verdadeira relíquia da República, auxiliada por valiosos elementos entre os quais é justo destacar os nomes da dr.ª Elina Guimarães, verdadeiro espírito de elite e que os nossos leitores bem conhecem pela sua colaboração neste jornal, e o de D. Angélica Porto, senhora possuidora dos mais belos dotes de coração. Não é possível esquecer D. Maria O’Neill a poética republicana de sempre, dr.ª Manuela Palma Carlos, aluna muito distinta da Faculdade de Letras, D. Deolinda Lopes Vieira, professora laureada da especialidade infantil, D. Beatriz Magalhães, professora ilustre do ensino primário geral, D. Sara Beirão, brilhante cronista do «Primeiro de Janeiro», D. Júlia Franco, primeira senhora nomeada inspectora escolar, interina, dr.ª Aurora Teixeira de Castro a primeira senhora notária e tantas outras, verdadeiros valores da nossa vida social. 

Pelas teses a discutir nas três sessões de trabalhos e que nós conhecemos, podemos afirmar que o congresso feminista se revestirá de um brilhantismo desusado e será mais uma bela manifestação do alto valor intelectual das suas organizadoras.
Há que atender às reivindicações feministas; a mulher tem de colaborar em todas as manifestações de actividade da vida moderna. Já não são as necessidades particulares deste ou daquele partido político que estão em foco, é o interesse da Nação que o exige. A Inglaterra, Na sua larga visão e tacto diplomático e governativo, acaba de dar o grande exemplo, estabelecendo a igualdade completa dos direitos políticos, para ambos os sexos, o que trará na totalidade uns 3.000.000 de votos de maioria para o sexo feminino.

Nada já hoje detém a marcha das ideias feministas em Portugal e as provas dadas pelas suas dirigentes satisfazem cabalmente.
O Congresso Feminista que hoje inaugura os seus trabalhos bem o demonstra. «O ensino da puericultura nas escolas infantis», «Acção moral do trabalho», «Escola única», «Protecção à mulher trabalhadora», «Coeducação», etc., são teses de um grande valor e interesse pedagógico, de toda a oportunidade e superiormente elaboradas.

Existe entre nós uma elite intelectual feminina, buscando melhorar as condições morais e materiais da mulher e da criança, trabalhando metódica e sistematicamente, sabendo o que quer e para onde vai e que os estadistas da República não devem deixar de aproveitar.
E por isto mesmo e porque assim tem de ser, é nosso dever aconselhar as nossas leitoras a acompanhar bem de perto os trabalhos, inscrevendo-se como congressistas.

«O Rebate», que desde a primeira hora esteve ao lado da comissão organizadora, saúda calorosa e efusivamente o segundo congresso feminista e de educação, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e em especial as iniciadoras, entre as quais conta algumas amigas dedicadas.
*
Chegou ontem a Lisboa, vinda de Madrid, para tomar parte nos trabalhos deste congresso, a ilustre médica oftalmologista Dr.ª Elisa Soriano, acedendo assim ao amável convite do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. A ilustre médica madrilena que se encontra hospedada no Hotel de Inglaterra, demorar-se-á entre nós até ao próximo dia 28, tencionando visitar Sintra, Estoril e Cascais, regressando a Espanha por via aérea.»
[O Rebate, 24/06/1928]

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