[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

[1268-A.] CÂNDIDA VENTURA [IV] || DESCUBRA AS DIFERENÇAS

* CÂNDIDA MARGARIDA VENTURA E A IMPRENSA DITA DE "REFERÊNCIA" *
[30/06/1918 - 16/12/2015]

Ao ler-se  o Público online de 16/12/2015, 17:20, constatou-se que o texto necrológico sobre Cândida Ventura, sem autor explícito, era "semelhante", "muito semelhante", para não se dizer "idêntico" a um escrito biográfico aqui publicado em 20 de Junho de 2014 e devidamente assinado com as iniciais JE, sem que se vislumbre referência ao seu autor ou à fonte. 

"Plagiado", "copiado", "transcrito" centenas de vezes, omitindo-se, muitas vezes deliberadamente, fontes e autor, este caso não deixa de ser surpreendente pela sua ligeireza e à vontade, constituindo um péssimo exemplo de como funciona a pesquisa na internet e como há muito a imprensa perdeu credibilidade, não por falta de leitores, mas pelas opções empresariais, ideológicas, editoriais e jornalísticas assumidas, ainda que, por vezes, encapotadamente. 

No dia dezoito, depois de um contacto com o periódico, este  acrescentou à notícia online "Segundo o blogue Silêncios e Memórias, de Jão [?] Esteves" entendeu retratar-se na seção "O Público errou", referindo que "os elementos biográficos sobre Cândida Ventura, inseridos no obituário da antiga dirigente do PCP, recolhem elementos publicados em várias fontes". 

Perante a reafirmação de que "os elementos biográficos sobre Cândida Ventura, inseridos no obituário da antiga dirigente do PCP, recolhem elementos publicados em várias fontes", valerá então a pena, até para memória futura, comparar a "informação" do Público online com o conteúdo do escrito inserido há ano e meio neste blogue e republicado no dia 17: em primeiro lugar surge o escrito deste blogue, seguido do texto referido jornal, estando a sublinhado as expressões ou palavras "iguais":

Nasceu em Moçambique, na então cidade de Lourenço Marques, a 30 de Junho de 1918, filha de António Ventura, funcionário dos caminhos-de-ferro, e de Clementina de Deus Franco Pires Ventura, mas cresceu nas Caldas de Monchique, no Algarve. // "Cândida Margarida Ventura nasceu em Moçambique, na então cidade de Lourenço Marques, a 30 de Junho de 1918, filha de António Ventura, funcionário dos caminhos-de-ferro, e de Clementina de Deus Franco Pires Ventura, mas cresceu nas Caldas de Monchique, no Algarve."

As influências do pai, então funcionário da administração das termas de Monchique que “inculcou nos filhos o amor pela natureza, doando-nos a rectidão do seu carácter, a sua bondade, a compreensão, o diálogo e o respeito pelos outros como base das relações humanas” [O Socialismo que eu vivi, p. 21], e dos seus amigos, entre os quais se contavam o Dr. Rui Teles Palhinha e o poeta algarvio Francisco Xavier Cândido Guerreiro [1872-1953], marcaram a maneira de ser e de pensar de Cândida Ventura, estimulando-lhe o interesse pela História e pela Filosofia, para além da política. // "As influências do pai, então funcionário da administração das termas de Monchique que “inculcou nos filhos o amor pela natureza, doando-nos a rectidão do seu carácter, a sua bondade, a compreensão, o diálogo e o respeito pelos outros como base das relações humanas”, como escreveu em O Socialismo que eu vivi, dos seus amigos, entre os quais se contavam Rui Teles Palhinha e o poeta algarvio Francisco Xavier Cândido Guerreiro, marcaram a sua  maneira de ser e de pensar, Estimularam-lhe o interesse pela História, Filosofia e política.

Como a mãe era professora primária, em 1929, com 11 anos, partiu para Lisboa e ficou no Instituto do Professorado Primário, fundado e dirigido pela pedagoga Amália Luazes [1865-1938]. // "Como a mãe era professora primária, em 1929, com 11 anos, partiu para Lisboa e ficou no Instituto do Professorado Primário." 

Estudou no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, ainda no Largo do Carmo, onde “foi de grande importância para mim a influência de professoras como Ema de Oliveira, Olímpia Bastos, Margarida Pinto, Seomara da Costa Primo (assistente do Dr. Rui Teles Palhinha)” [idem, p. 22]. // "Estudou no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, ainda no Largo do Carmo, onde – recordou - “foi de grande importância para mim a influência de professoras como Ema de Oliveira, Olímpia Bastos, Margarida Pinto, Seomara da Costa Primo." 

Em 1936 matriculou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa, onde conviveu, entre outros nomes, com Mário Dionísio [16/07/1916-17/11/1993], Vasco Magalhães-Vilhena [1916-1993] e Fernando Piteira Santos [23/01/1918-28/09/1992], com quem se casou muito nova. // "Em 1936 matriculou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa, onde conviveu, entre outros com Mário Dionísio, Vasco Magalhães-Vilhena e Fernando Piteira Santos, com quem se casou."

No meio académico, marcado pelos acontecimentos trágicos da Guerra Civil de Espanha (1936-1939), iniciou a sua vida política e, tal como os dois irmãos, Joaquim Pires Ventura e Maria Clementina Ventura Campos Lima [n. 19/06/1917], aderiu ao Partido Comunista Português, numa militância activa que perdurou por quatro décadas, até Agosto de 1976, desempenhando, de forma continuada, funções políticas relevantes. // "No meio académico, marcado pela Guerra Civil de Espanha (1936-1939), iniciou a sua vida política e, tal como os dois irmãos, Joaquim Pires Ventura e Maria Clementina Ventura Campos Lima aderiu ao Partido Comunista Português, numa militância activa que perdurou por quatro décadas, até Agosto de 1976, desempenhando, de forma continuada, funções políticas relevantes."

Pertenceu à Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas – trabalhou com Álvaro Cunhal [1913-2005], cinco anos mais velho, em 1937-1938. // "Pertenceu à Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas e trabalhou com Álvaro Cunhal em 1937-1938, de quem tinha sido companheira."

Integrou o Bloco Académico Antifascista (BAAF), organização ilegal e clandestina criada em finais de 1935 que visava combater o fascismo e o governo salazarista. // "Integrou o Bloco Académico Antifascista (BAAF), organização ilegal e clandestina criada em finais de 1935 que visava combater o fascismo e o governo salazarista.

Foi a responsável do Socorro Vermelho Internacional na sua Faculdade. // "Foi a responsável do Socorro Vermelho Internacional na sua Faculdade

Integrou a Associação Feminina Portuguesa para a Paz e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. // "e integrou a Associação Feminina Portuguesa para a Paz e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas."

Fez parte da redacção do jornal O Diabo, participou, com outros jovens intelectuais e activistas, nos passeios de barco pelo rio Tejo de características culturais e políticas, realizados nos anos de transição da década de 30 para a de 40, e apoiou, em 1940-1941, os reorganizadores do Partido Comunista Português. // Fez parte da redacção do jornal O Diabo, participou, com outros jovens intelectuais e activistas, nos passeios de barco pelo rio Tejo de características culturais e políticas, realizados nos anos de transição da década de 30 para a de 40, e apoiou, em 1940-1941, os reorganizadores do PCP.

Em 1943, no mesmo ano em que concluiu o Curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Coimbra e teve papel de destaque na preparação e orientação das greves do calçado de S. João da Madeira, ocorridas em Agosto, passou à clandestinidade por proposta de José Gregório [19.03.1908-1961], tornando-se na primeira mulher com funções directivas após a reorganização. // "Em 1943, no mesmo ano em que concluiu o Curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Coimbra e teve papel de destaque na preparação e orientação das greves do calçado de S. João da Madeira, ocorridas em Agosto, passou à clandestinidade, tornando-se na primeira mulher com funções directivas após a reorganização."

Sucedeu a Joaquim Pires Jorge [1907-1984] enquanto responsável do PCP na zona Norte e, como tal, chegou a viver nas casas do Porto de Nina Perdigão [Tomázia Josefina Henriques Perdigão, 02.05.1902-1988] e de Alexandre Babo, que já a conhecia desde os tempos do BAAF e a considerava “para a nossa geração uma referência determinante, quase um mito, ligado à sua luta, à sua coragem e até à sua beleza” [Alexandre Babo, Recordações de um caminheiro, Lisboa, Escritor, 1993]. // Sucedeu a Joaquim Pires Jorge como responsável do PCP na zona Norte e, como tal, chegou a viver nas casas do Porto de Nina Perdigão e de Alexandre Babo que, em Recordações de um caminheiro, a considerava “para a nossa geração uma referência determinante, quase um mito, ligado à sua luta, à sua coragem e até à sua beleza.”

Participou na reunião ampliada do Comité Central realizada, em Maio de 1945, na Casa da Granja; interveio no II Congresso Ilegal, realizado numa casa da Lousã em Julho de 1946, onde passou a integrar, como suplente (1946) e depois como efectiva (1957), o Comité Central, apesar de em Março de 1954, na sua V Reunião Ampliada, ter sido acusada de actividade fracionária, suspensa e readmitida em 1956. // "Participou na reunião ampliada do Comité Central realizada, em Maio de 1945, na Casa da Granja; interveio no II Congresso Ilegal, realizado numa casa da Lousã em Julho de 1946, onde passou a integrar, como suplente (1946) e depois como efectiva (1957), o Comité Central, apesar de em Março de 1954, na sua V Reunião Ampliada, ter sido acusada de actividade fraccionária, suspensa e readmitida em 1956."

Desenvolveu tarefas na organização operária de Lisboa, foi a responsável pela criação do boletim 3 Páginas, órgão especificamente dedicado às mulheres clandestinas das casas do Partido, e em Abril de 1958 saiu ilegalmente do país para visitar a União Soviética. // "Desenvolveu tarefas na organização operária de Lisboa, foi a responsável pela criação do boletim 3 Páginas, órgão especificamente dedicado às mulheres clandestinas das casas do PCP, e em Abril de 1958 saiu ilegalmente do país para visitar a União Soviética."

Presa a 3 de Agosto de 1960, ao fim de 18 anos de vivência clandestina no país, recolheu ao Forte de Caxias. // "Presa a 3 de Agosto de 1960, Ao fim de 18 anos de clandestinidade foi presa, no forte de Caxias, em Agosto de 1960."

Julgada pelo Tribunal Plenário de Lisboa a 13 de Maio de 1961, foi condenada a cinco anos de prisão maior, suspensão de direitos políticos por 15 anos e medida de segurança de internamento, indeterminado, de seis meses a seis anos.  Libertada, por questões de saúde, a 11 de Julho de 1963, partiu em 1964 para o estrangeiro e retomou a actividade política. //  "Julgada pelo Tribunal Plenário de Lisboa a 13 de Maio de 1961, foi condenada a cinco anos de prisão maior, suspensão de direitos políticos por 15 anos e medida de segurança de internamento, indeterminado, de seis meses a seis anos. Libertada, por questões de saúde, a 11 de Julho de 1963, partiu em 1964 para o estrangeiro e retomou a actividade política."

A partir de 1965, viveu na Checoslováquia enquanto representante do Comité Central naquele país e na Revista Internacional, sob o nome de Catarina Mendes. Aí acompanhou por dentro os acontecimentos relacionados com a “Primavera de Praga” e viu a filha Rosa juntar-se-lhe em 1969, quando tinha dezassete anos.  Regressou a Portugal ao fim de dez anos, no início de 1975, e no ano seguinte consumou a ruptura com o Partido de décadas. Usou os pseudónimos “Joana”, “André”, “Maria” e “Catarina Mendes” e colaborou noAvante! // "A partir de 1965, viveu na Checoslováquia como representante do Comité Central do PCP naquele país e na Revista Internacional, onde escreveu sob o nome de Catarina Mendes. Aí acompanhou por dentro os acontecimentos relacionados com a “Primavera de Praga”. Regressou a Portugal no início de 1975, e no ano seguinte, consumou a ruptura com o PCP, onde usou os pseudónimos de “Joana”, “André”, “Maria” e “Catarina Mendes” e colaborou no Avante!."

Após afastamento do PCP, manteve intervenção política e cívica noutros quadrantes político-partidários e trabalhou como professora e funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros antes de voltar ao seu Algarve e fixar residência em Portimão. // "Após o afastamento do PCP, manteve intervenção política e cívica noutros quadrantes político-partidários e trabalhou como professora e funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros antes de voltar ao seu Algarve e fixar residência em Portimão."

Escreveu, em 1984, o livro O Socialismo que eu vivi. Testemunho de uma ex-dirigente do PCP, com Prefácio de Artur London [1915-1986], com apontamentos memorialistas em que é privilegiado o período posterior a 1968 em detrimento da riquíssima militância anterior. Rose Nery Nobre de Melo inseriu a sua “Biografia Prisional” no livro Mulheres Portuguesas na Resistência. Mário Dionísio lembrou-a, enquanto “Joana de olhos claros”, em Balada dos Amigos Separados. Pacheco Pereira, na trilogia dedicada à biografia política de Álvaro Cunhal, inseriu fotografias suas, nomeadamente uma num dos passeios de barco pelo rio Tejo. // "Escreveu, em 1984, o livro O Socialismo que eu vivi. Testemunho de uma ex-dirigente do PCP, com Prefácio de Artur London [1915-1986], com apontamentos memorialistas em que é privilegiado o período posterior a 1968 em detrimento da riquíssima militância anterior.  Rose Nery Nobre de Melo inseriu a sua “Biografia Prisional” no livro Mulheres Portuguesas na Resistência.  Mário Dionísio lembrou-a, enquanto “Joana de olhos claros”, em Balada dos Amigos Separados. Pacheco Pereira, na trilogia dedicada à biografia política de Álvaro Cunhal, inseriu fotografias suas, nomeadamente uma num dos passeios de barco pelo rio Tejo.

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[João Esteves]

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