[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 8 de março de 2015

[0936.] MARIA MACHADO [VI] || 1890 - 1958

* MARIA DOS SANTOS MACHADO NASCEU HÁ 125 ANOS *
[25/02/1890-04/10/1958]

[Avante!, 26/02/2015]

Professora primária e militante do Partido Comunista desde a década de 30.

Filha de Bartolomeu Silveira Lucas e de Maria dos Santos Teixeira,  Maria dos Santos Machado nasceu na Vila da Calheta, S. Jorge, Açores, a 25 de Fevereiro de 1890 e faleceu na Amadora a 4 de Outubro de 1958.

Começou por lecionar nos Açores, onde procura pôr em prática métodos de ensino inovadores, baseados na Escola Activa e criou uma biblioteca para os alunos aberta à população. 

Em Lisboa, exerceu a profissão na Escola Primária Nº 97, apoiou a Seção Portuguesa do Socorro Vermelho Internacional, tornou-se esperantista e lecionou Português na Liga dos Esperantistas Ocidentais, atividade que esteve na origem da sua primeira prisão a 1 de Agosto de 1936, sendo libertada a 12 de Dezembro do mesmo ano. Também criou uma escola particular para os filhos dos ferroviários de Campolide, que seria encerrada pela polícia, e fundou uma biblioteca em Algés.

Responsável pela adesão ao Partido Comunista de Vítor Rafael Ferreira, empregado de escritório, que em 1937, numa conjuntura particularmente difícil, realizou a tarefa de correio entre vários dirigentes clandestinos procurados pela polícia. 

Em Maio de 1937 obteve autorização para uma breve deslocação aos Açores, efetuada sob apertada vigilância policial e, nesse mesmo ano, esteve envolvida na criação, em Coimbra, do “Núcleo Manuel dos Santos”, organismo de apoio local à Frente Popular Portuguesa, aonde se deslocou várias vezes em trabalho conspirativo. 

Em 1938 partiu para Paris, de onde regressou no início de 1942. 

Na capital francesa, exerceu funções junto do Comité de Frente Popular Portuguesa; assegurou ligação permanente com o Bloco Académico Antifascista (BAAF) que atuava em Portugal; colaborou com a Internacional Comunista e com membros do Partido Comunista Espanhol e do Partido Comunista Francês; manteve correspondência codificada com Fernando Piteira Santos [1918-1992], com Manuel dos Santos [03/02/1914-25/10/1947] – comunista conhecido pelo “pequeno Dimitrov”, preso na Penitenciária de Coimbra entre 4 de Março de 1936 e 6 de Agosto de 1942, onde cumpriu parte da pena de 22 anos a que fora condenado – e Jofre Amaral Nogueira, sendo por intermédio de Maria dos Santos Machado que este obteve a confirmação da autorização de Henri Lefebvre, em carta datada de 30 de Maio de 1938, para traduzir e publicar no periódico Sol Nascente a série de artigos “Que é a dialéctica?”, extraídos da Nouvelle Revue Française

Também em Paris, colaborou com Francisco de Paula Oliveira [1908-1992] que, após a sua fuga da prisão do Aljube a 23 de Maio de 1938, tomou conta, ainda que por escasso tempo, da direção da organização comunista portuguesa em França, e aí também conviveu com Manuel Domingues, outro quadro de relevo da direção do Partido e do Comintern, com vasta experiência internacional. 

Regressada a Portugal, travou contactos com Júlio de Melo Fogaça [1907-1980], envolveu-se com os partidários da reorganização do Partido Comunista e ingressou no trabalho das tipografias clandestinas até ser presa pela GNR a 4 de Novembro de 1945 em Barqueiros, Alvaiázere, após ser responsável durante quatro anos e três meses pela composição e impressão de 81 números consecutivos do jornal Avante!. 

A sua prisão, e a forma como permitiu a fuga dos dois outros camaradas – José Augusto da Silva Martins [1912-1956] e Máximo Joaquim Justino Alves –, de quem se fazia passar, respetivamente, por tia e mãe, tornou-se num dos episódios mais conhecidos e enaltecidos da defesa de tipografias clandestinas e da resistência comunista. 

Entregue à PIDE três dias depois, recusou-se a prestar declarações e recolheu incomunicável à Cadeia de Caxias, tendo a sua atitude de sacrifício em prol dos camaradas merecido uma saudação especial no encerramento do II Congresso Ilegal do PCP, realizado na Lousã em Julho de 1946. 

Libertada a 31 de Agosto de 1947, tornou a ser detida a 20 de Dezembro de 1953, para averiguações, sendo libertada a 9 de Janeiro do ano seguinte.

A última prisão, a quarta, ocorreu a 14 de Abril de 1954, tendo já 64 anos, e só saiu em liberdade a 6 de Outubro de 1956.

Proibida de exercer a profissão, empregou-se como governanta de uma casa particular e bordava tapetes de Arraiolos para sobreviver, continuando, clandestinamente, a dar aulas gratuitas a trabalhadores.

Por pressão da PIDE que descobriu onde vivia, foi despejada do quarto alugado, passando a refugiar-se em becos e azinhagas. Faleceu com 68 anos de ataque cardíaco fulminante em plena rua, na Amadora.

Assinou em 1935, no jornal Avante!, sob o pseudónimo “Rubina”, dois textos intitulados “Tribuna Feminina” dirigidos às mulheres portuguesas. 

Pela dedicação militante até à morte, com responsabilidades no aparelho técnico clandestino das casas do Partido Comunista, pela postura que assumiu quando presa e pelo despojamento com que viveu, Maria Machado tornou-se num dos símbolos femininos mais queridos e recorrentemente evocados, perdurando no tempo a atitude na tipografia de Alvaiázere. 

Alberto Vilaça, na sua minuciosa obra Para a história remota do PCP em Coimbra – 1921-1946, insere uma fotografia de Maria Machado “na época das suas ligações partidárias com Coimbra”, bem como cópia de uma carta a Jofre Amaral Nogueira [AV, pp. 164-165].

Segundo Teresa Fonseca, entre 1975 e 1991 existiu, no âmbito da Reforma Agrária, uma unidade coletiva de produção com o nome de Maria Machado, no lugar de Fazendas do Cortiço, freguesia de Nª Sª do Bispo, concelho de Montemor-o-Novo.

Rose Nery Nobre de Melo publicou dados da sua Biografia Prisional em Mulheres Portuguesas na Resistência [Lisboa, Seara Nova, 1975], acompanhada de outros dados, sendo aí referido que Maria Machado faleceu a 4 de Outubro de 1958.

Comissão do livro negro sobre o regime fascista, vol II, apresenta parte da sua Biografia Prisional.

O Dicionário dos Educadores Portugueses (2003), o Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX) (2005) e Feminae. Dicionário Contemporâneo (2013) inseriram biografias de Maria  Machado.

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