[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

[0452.] AIDA PAULO [I]

* AIDA DA CONCEIÇÃO PAULO *
[09/12/1918-25/10/1993]

[Fotografia publicada por António Ventura, Memórias da Resistência – Literatura Autobiográfica da Resistência ao Estado Novo, Câmara Municipal de Lisboa, 2001]

Ajuntadeira de Calçado.

Filha de Luísa da Conceição Paulo, tecedeira, e de Carlos Luís Paulo, pintor da construção civil, nasceu em Lisboa, na Rua de Campo de Ourique, a 9 de Dezembro de 1918, e faleceu a 25 de Outubro de 1993, com 75 anos de idade.

Aderiu ao Partido Comunista Português em 1936, com apenas 18 anos, e manteve, tal como a mãe, duradoura actividade nas casas de apoio, sendo indissociável o percurso e cumplicidade de ambas na luta clandestina e durante as várias prisões.

Presa pela polícia política do Estado Novo (PVDE, PIDE) por 3 vezes, entre 1939 e 1967, duas das quais com a mãe.

A primeira detenção aconteceu com a mãe e Augusto da Costa Valdez (01/02/1914-1988) a 27 de Maio de 1939, numa tipografia clandestina em Algés. Transferida para a Cadeia das Mónicas a 13 de Junho, seria julgada pelo Tribunal Militar Especial a 19 de Outubro de 1940 e condenada a 12 meses de prisão e perda de direitos políticos por cinco anos [de 27/05/1939 a 27/10/1940 (Cadeia das Mónicas)].

Libertada, voltaria à militância, passando com a mãe para uma casa na Chamboeira (Freixial, Loures), com Sérgio Vilarigues e, posteriormente, Álvaro Cunhal. A filha e a mãe foram as duas únicas mulheres que, através dos serviços de apoio, participaram no I Congresso Ilegal do PCP realizado no Monte Estoril em 1943.

A segunda prisão deu-se quase 20 anos depois, numa habitação clandestina em Lisboa, na Rua Castilho, da qual resultou a condenação a dois anos e meio e a que correspondeu, na prática, a mais de 6 anos de reclusão [de 02/12/1958 a 14/01/1965 (Caxias)]. Foi, então, autora duma das treze cartas incluídas no manifesto enviado clandestinamente da Prisão de Caxias, datado de Maio de 1961, e dirigido às “organizações femininas e democráticas do mundo inteiro”, onde se fazia a denúncia das torturas e das precárias condições em que as presas políticas estavam encarceradas.

Abandonou a clandestinidade em 1965, para cuidar da mãe, gravemente doente.

A última detenção [de 28/07/1967 a 02/05/1968 (Caxias)] deu-se na legalidade, em Julho de 1967. Enviada incomunicável para a esquadra de Campolide e torturada pela PIDE, foi julgada a 2 de Maio de 1968, absolvida e imediatamente libertada.

Trabalhou no consultório da médica Julieta Gandra, na Rua Manuel da Maia, cujo conhecimento datava da prisão de Caxias, onde partilharam a mesma cela.

Pouco tempo depois da revolução de 25 de Abril de 1974, assinou o livro  Com a certeza de quem quer vencer e prestou depoimentos separados a Gina de Freitas [“E assim passavam os meses que se podiam somar por anos”, A Força Ignorada das Companheiras] e a Rose Nery Nobre de Melo [Mulheres Portuguesas na Resistência] sobre três décadas de vivência política clandestina, antes e depois da reorganização do PCP em 1940-1941, e as prisões sofridas. Neles, evocou a infância em Campo de Ourique, a aspiração de ser médica, a deportação do pai para Angola, em 1927, a leitura do jornal Avante! e a adesão ao PCP, actividades clandestinas, a família, a solidão, o isolamento, situações em que se deram as detenções, agentes envolvidos, interrogatórios, humilhações, condições prisionais, torturas e contacto com presas de delito comum, entre muitos outros aspetos.


O apelido surge na maior parte das vezes como Paula, inclusive na ficha prisional da PIDE e na capa do seu livro, editado em 1974, na coleção Episódios da Resistência Antifascista contados por quantos a viveram.
[João Esteves]

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