[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

[0483.] CESINA BERMUDES [I] || 1908 - 2001

* CESINA BORGES ADÃES BERMUDES *
[20/05/1908-09/12/2001]


Médica. 

Filha de Félix Redondo Adães Bermudes [1874-1960], escritor e dramaturgo, e de Cândida Bermudes.

Terá feito a instrução primária em casa, estudou no Liceu Camões, concluiu o 7.º ano em 1926 e licenciou-se na Faculdade de Medicina de Lisboa em 1933. 

Concluiu o curso com 24 anos e fez, de seguida, “o internato geral, o internato de cirurgia e, em 1936-37, a especialidade de obstetrícia” [Vanda Gorjão, p. 103]. 

Foi Assistente de Anatomia do Professor Henrique de Vilhena [1879 - 1958] na Faculdade de Medicina de Lisboa e, em 1947, concluiu o doutoramento com 19 valores, sendo a primeira mulher a fazê-lo. 

No entanto, não pôde tomar posse por ser desafecta ao regime, tendo desenvolvido, na década de 40, intensa actividade política de oposição ao salazarismo. 

Assinou, em 1945, as listas do MUD, subscrevendo a constituição no seu seio de uma Comissão de Mulheres. 

Envolveu-se, em 1948-1949, na campanha presidencial do General Norton de Matos, sendo uma das dirigentes da respectiva Comissão Eleitoral Feminina em Lisboa. Discursou, em seu nome, em vários comícios. 

Juntamente com Ermelinda Cortesão e Luísa de Almeida, marcou presença na Assembleia de Delegados de 7 de Fevereiro, realizada no Centro Republicano António José de Almeida, em que se decidiu pela não ida às urnas daquele. 

Presa em 14 de Outubro de 1949, por integrar a Comissão Central do Movimento Nacional Democrático Feminino, recolheu ao Forte de Caxias, de onde foi libertada três meses depois, a 14 de Janeiro de 1950, depois de submetida a três interrogatórios. 

Em 1950, esteve envolvida na constituição do Comité Nacional de Defesa da Paz, juntamente com Maria Isabel Aboim Inglês, Maria Lamas e Virgínia Moura.

Aquando da trasladação dos restos mortais do antigo Presidente da República Manuel Teixeira-Gomes, em Outubro de 1950, marcou presença no cortejo fúnebre rumo ao cemitério de Portimão com centenas de outros oposicionistas. 

Assinou, com Virgínia Moura, o documento comemorativo do 10.º aniversário do MUD (1955) e, em 1957, integrou, com as escritoras Maria Lígia Valente da Fonseca Severino e Natália Correia, a Comissão Cívica Eleitoral de Lisboa para que a oposição pudesse intervir legalmente nas eleições que se avizinhavam. 

Apoiou a candidatura de Arlindo Vicente e, depois, a do General Humberto Delgado, diluindo-se, posteriormente, a sua visibilidade política. 

Manteve-se, no entanto, sempre solidária na assistência médica a muitas clandestinas do Partido Comunista Português, nomeadamente na ajuda a parturientes vivendo na ilegalidade. 

Foi campeã de natação, participou em corridas de bicicletas e de automóveis e foi uma das introdutoras das técnicas do parto psicoprofilático (parto sem dor) em Portugal depois de ter estado em Paris, em 1954, num curso sobre aquele e onde encontrou os médicos Joaquim Seabra-Dinis [1914 - 1996[, Pedro Monjardino [1910 - 1969] e João dos Santos [1913 - 1987[. 

Seguindo as pisadas do pai, pertenceu, desde 1927, à Sociedade Teosófica, onde desempenhou as funções de secretária-geral, acreditava na reencarnação e optou pela alimentação vegetariana. 

Concedeu, a 7 de Fevereiro de 2000, uma entrevista a Ilda Soares de Abreu e Maria Teresa Santos, publicada na revista Faces de Eva. 

Faleceu em 9 de Dezembro de 2001, com 93 anos. 

[João Esteves]

Sem comentários: