[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

[0456.] LUÍSA PAULO [I]

* LUÍSA DA CONCEIÇÃO PAULO *
[25/12/1898-1966]


Tecedeira.

Nasceu em Lisboa a 25 de dezembro de 1898 e faleceu em 1966, com 67 anos de idade, após décadas de militância no Partido Comunista.

Começou a trabalhar aos 17 anos na indústria têxtil, onde se evidenciou nas lutas por melhores salários e condições de trabalho. Durante a I República, terá participado nas grandes manifestações e greves da CGT.

Casou-se, aos 19 anos, com Carlos Luís Paulo, pintor da construção civil, perseguido, várias vezes preso no Governo Civil de Lisboa e deportado para Angola em 1927, devido às suas posições políticas.

Dezoito meses depois partiu com a filha, Aida da Conceição Paulo, para África.

Regressadas a Portugal, mãe e filha desenvolveram intensa actividade conspirativa, com angariação de fundos para os presos políticos, que visitavam ao domingo.

Durante a Guerra Civil de Espanha, Luísa Paulo cuidou de quatro refugiados espanhóis em sua casa, enquanto continuava a trabalhar numa fábrica. Data desse período o início da militância activa no Partido Comunista, formando com a filha um dos pares com mais experiência da vida clandestina.

Presa com Aida Paulo a 27 de Maio de 1939, numa tipografia ilegal em Algés, manteve-se incomunicável numa esquadra até ser transferida, a 21 de Junho, para a Cadeia das Mónicas: julgada no Tribunal Militar Territorial em 19 de Outubro de 1940, foi condenada a vinte meses de prisão correccional, que cumpriu naquele estabelecimento, onde conviveu com presas de delito comum, e saiu em liberdade a 1 de Fevereiro de 1941.

Voltou à militância activa, passando imediatamente com a filha para uma casa na Chamboeira (Freixial, Loures), com Sérgio Vilarigues e, posteriormente, Álvaro Cunhal, de quem fazia de “mãe”.

Trabalhou nos serviços de apoio, participaram ao I Congresso Ilegal do PCP, realizado no Monte Estoril em 1943.

Tornou a ser detida em 1947, também numa tipografia, e com a filha, numa casa clandestina, a 2 de dezembro de 1958, data do último trio de fotografias que consta da sua Biografia Prisional.

Enviada para Caxias, foi julgada em 25 de fevereiro de 1960 pelo Plenário do Tribunal Criminal da Comarca de Lisboa e sentenciada a dois anos de prisão maior, suspensão dos direitos políticos durante 15 anos e a medida de segurança de internamento indeterminado de seis meses a três anos, prorrogável. Acabou por ser libertada em 5 de Julho de 1962, por se encontrar gravemente doente.

Aprendeu a ler e a escrever somente na clandestinidade, quando tinha mais de 40 anos. Maria Eugénia Varela Gomes, sua companheira de cela, descreve-a no livro Contra ventos e marés:

“A velha Luísa Paulo, a mãe Luísa, como lhe chamávamos. Era uma verdadeira operária. Só entrara para o Partido Comunista aos quarenta anos, já viúva, depois de uma vida de luta cá fora, e de caminhadas para as cadeias, a apoiar o marido e os amigos. Fora no partido que aprendera a ler, e a sua ânsia de se cultivar era comovedora. Inteligente, esperta como um alho, era capaz de pensar pela sua cabeça, e não havia demagogia nem artes oratórias que a dobrassem, enfrentando constantemente as intelectuais. Doentíssima, superava a doença com a sua energia indomável. Estudava, lia, fazia ginástica, apesar da sua idade avançada e de um coração que funcionava muito mal. Tive sempre o apoio dela, embora discreto. Só não se lhe podia falar em padres, porque perdia a cabeça. Viera da I República, e era de um anticlericalismo total” [MMC, Maria Eugénia Varela Gomes..., p. 233].

Considerada um símbolo da defesa das casas clandestinas durante três décadas, Rose Nery Nobre de Melo dedicou-lhe um capítulo no livro Mulheres Portuguesas na Resistência. Tal como a filha, o apelido aparece frequentemente como Paula.
[João Esteves]

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