[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

[0250.] REGINA TAVARES DA SILVA || A MULHER. BIBLIOGRAFIA PORTUGUESA ANOTADA (1518-1998)

* REGINA TAVARES DA SILVA *

A MULHER. BIBLIOGRAFIA PORTUGUESA ANOTADA (1518-1998)

PREFÁCIO: MARIA DE LOURDES PINTASILGO

EDIÇÕES COSMOS || 1999

[Edições Cosmos || 1999]

Dando continuação aos seus estudos sobre o papel da mulher na sociedade portuguesa, Regina Tavares da Silva abalança-se, com esta última obra, ao trabalho ambicioso de apresentar o levantamento de cinco séculos de produção escrita específica sobre a situação e os problemas das mulheres.

Perante uma delimitação temporal e uma temática tão vastas, a autora explicita, com detalhe, os critérios por que se norteou, não deixando de alertar para a impossibilidade de garantir a “exaustividade absoluta” da pesquisa bibliográfica e, apesar de deixar de fora alguns géneros eventualmente importantes (manuais de civilidade; autobiografias e biografias; sexualidade), a «recolha efectuada é suficientemente ampla e significativa daquilo que, em Portugal, foi sendo dito e escrito sobre a mulher, e sobre as mulheres» [p. 7].

O resultado é a construção de um instrumento metodológico de inegável relevância, envolvendo um rol de cerca de milhar e meio de títulos e atravessando vários géneros, facultando-se ao leitor/investigador pertinentes resumos e anotações sintéticas sobre cada uma das monografias, acompanhados do local de consulta e das respectivas cotas.

Na sua pesquisa, Regina Tavares da Silva incluiu separatas, folhetos volantes, estudos que deixaram rasto, embora se desconheça o seu paradeiro, e não se esqueceu dos trabalhos de natureza académica, em nítido crescendo durante a última década. Teve ainda a feliz preocupação de esmiuçar as obras colectivas, abrangendo colóquios, congressos, seminários e outras reuniões científicas, sublinhando algumas comunicações e artigos que, de outra forma, seriam de difícil visibilidade.

Desta Bibliografia ressalta igualmente a valorização da Biblioteca, especializada, da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, contendo documentos únicos a nível de conferências, folhetos e pequenos estudos, sendo, por exemplo, possível encontrar fontes essenciais para o estudo de agremiações femininas (Cruzada das Mulheres Portuguesas; Grémio Feminino de Lisboa; Juventude Independente Católica Feminina; Liga Portuguesa Abolicionista; Movimento Democrático das Mulheres), incluindo a brochura de Ana de Castro Osório A educação Cívica da Mulher (1908), publicada pelo efémero Grupo Português de Estudos Feministas.

As entradas merecem redobrada atenção, já que proporcionam a clara percepção de como o discurso sobre a mulher mudou demasiado lentamente e, tal como salienta Maria de Lourdes Pintasilgo, autora do Prefácio, «ao olhar o que Portugal pensou e escreveu sobre as mulheres entre 1518 e 1998, esclarece-se toda uma herança que não pode deixar de estar ainda presente nas convicções, nos atavismos, nas reacções espontâneas da sociedade em que vivemos» [p. XI].

Aliás, e ainda como nota M. de Lourdes Pintasilgo, «se houve progresso, talvez ele tenha mais a ver com a contenção das palavras e até, é justo dizê-lo, com a evolução das leis, do que com as práticas directa ou subtilmente discriminatórias que atingem ainda hoje as mulheres» [p. XII].

Regina Tavares da Silva não se limitou à compilação e organização da recolha e propõe, numa Introdução minuciosa e bem fundamentada, a merecer cuidada reflexão, o agrupamento das monografias, em função do seu conteúdo, em três grandes grupos (obras de carácter laudatório ou de exaltação; obras de carácter didáctico e crítico; e obras sobre os direitos e a acção das mulheres), de forma a fazer ressaltar «as principais linhas sobre as quais o tema tem sido abordado ao longo dos tempos» [p. 14].

Já a II parte, bem mais pequena, mas não menos trabalhosa, corresponde à distribuição das obras analisadas por 17 temas abrangentes. [...]

Se esta Bibliografia é «um marco para a investigação sobre a representação das mulheres na história das ideias em Portugal» [p. XIV], também dá relevo a muitas das protagonistas que intentaram transformar a condição feminina na sociedade e que tiveram de enfrentar inúmeras adversidades para veicular as suas aspirações a uma plena cidadania. No entanto, não se pode deixar de reafirmar que a parte mais significativa da sua intervenção em prol de um novo estatuto para as mulheres reside em artigos publicados na imprensa, atingindo, só na primeira década do século XX, várias centenas.

Pelo rigor, diversidade, comentários e pistas que contém, trata-se de um guia precioso para quem se dedica aos Estudos sobre as Mulheres, com a garantia de se deparar, pelo menos, com dezenas de títulos de consulta apetecível.

[Fevereiro de 2000 ||
Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher || n.º 3 || 2000]

[João Esteves]

Sem comentários: