[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

[0207.] MARIA VELEDA || 07/12/1910

* MARIA VELEDA *

ENFERMAGEM LAICA || RESPOSTA A MARIA VELEDA || 07/12/1910 *

[O Mundo || 07/12/1910]

O  jornal O Mundo insere uma carta de uma leitora que tece duras críticas à proposta de Maria Veleda sobre a enfermagem laica e à Liga Republicana das Mulheres Portuguesas:

"Um alvitre
Recebemos ontem a seguinte carta:
Cidadão director – A carta da sr.ª D. Maria Veleda só pode fazer rir, ou irritar (conforme os temperamentos) quem verdadeiramente se interesse pela educação, orientação e cultura moral da mulher portuguesa. O problema da enfermagem laica (socorros em caso de guerra, de que em especial se trata), resolvido e superiormente organizado em todos os países cultos, não podia, na nossa terra, ser acolhido com indiferença e, menos ainda, com desdém, por todos aqueles que olham a sério para o progresso material e moral das coisas portuguesas. Se um grupo de senhoras, cheias de boa vontade e persistência em levar a efeito essa obra tão necessária, se decidisse a procurar para esse fim os elementos indispensáveis, estou convencida de que encontraria auxiliares entusiastas. Nenhum republicano se oporia a que a mulher, a filha ou a irmã adquirissem noções que, no momento do perigo, as habilitassem a valer ao seu semelhante, amigo ou inimigo; nenhuma mulher de coração se esquivaria a roubar umas horas ao trabalho ou ao passeio para essa nobre e altruísta tarefa; nenhum médico republicano lhe recusaria a sua ciência e a imprensa avançada dar-lhe-ia todo o apoio.
Que fez, porém, nesse sentido, a Liga das Mulheres Republicanas, em dois anos, (ou mais) de existência? A quem se dirigiu e quais as suas tentativas? Não é ventilando a questão numa assembleia geral que se dá impulso a uma obra importante e urgentíssima. A Liga tinha médicas entre as suas associadas; como Liga Republicana não podia ignorar que desde 1907 se conspirava e planeava a revolução, circunstância que devia impor-lhe o dever de trabalhar na organização de socorros, e de trabalhar afincadamente, quaisquer que fossem as dificuldades a vencer. A falta de hospital próprio não era irreparável; o curso podia iniciar-se em qualquer sala de associação, e com tempo, estímulo e bons desejos, se trataria da instalação definitiva. «Em tempo de guerra não se limpam armas», e em véspera de guerra vivemos desde 1907 até outubro de 1910. Em resumo, a Liga nada conseguiu porque, a valer, nada tentou. Passaram dois meses sobre os dias gloriosos de outubro e só no imediato à publicação do alvitre, abraçado pelo Mundo, o público é informado, pela imprensa diária, dos desejos e intenções dessa agremiação. Envio-lhe estas rápidas considerações para que os factos fiquem bem esclarecidos e subscrevo-me com muita consideração, de v., etc. – Democrata sincera."

[O Mundo || 07/12/1910]

[João Esteves]

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